quinta-feira, 13 de outubro de 2016

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Os rufias de argolas nas orelhas

Tenho 21 anos e vivo no século XXI. Como tal, tenho amigos homens que aderiram ao uso de argolas nas orelhas, tatuagens e afins. Uma coisa normal para mim, mas anormal para outros.
A verdade é que cada vez mais acho que vivemos numa sociedade em que toda a gente diz “cada um é livre de fazer o que quer” ou “cada um é como é” e, no final de contas, as coisas são tudo menos como se diz. Isto porque é fácil dizer “a vida é dele” mas é difícil não julgar. E se antes eu achava –na minha ingenuidade- que, finalmente, as pessoas começavam a aceitar que a aparência não define personalidade, agora vejo que não. Infelizmente ainda há muita gente que acha que a aparência influencia a personalidade. Afinal, é impossível que um homem que usa argolas ou esteja todo tatuado seja um santinho. A esses já ouvi chamar de tudo. São os rufias, os que arranjam inúmeros problemas, os que estão sempre metidos em confusões e que de santos não têm nada. E quando perguntamos às pessoas que pensam isso deles o porquê de os apelidarem assim, não têm argumentos. Talvez porque eles não existam. Talvez porque a única lei pela qual se regem os seus comentários são as “argolinhas” que denunciam que aquele ser é um marginal. Mesmo que não o seja. Um único objeto que em nada devia influenciar uma opinão. Um pequeno objeto que é tantas vezes alvo de preconceito. E depois falamos de igualdade. Queremos igualdade entre homens e mulheres porque todos nascemos para termos os mesmos direitos. Mas depois julgamos um homem por querer usar um brinco ou uma argola. Ele é o marginal. E na mulher? É uma coisa perfeitamente normal. Ele faz a depilação e passa creme na pele? É gay. E a mulher? Coisa normal. Pois, mas o que falta entender é que o “normal” é uma coisa relativa. E quando vejo um amigo meu ser insultado por usar argolas e ter “aspeto de marginal” só consigo pensar que a aparência dele é normal. Porque é, de facto, normal a partir do momento em que cada um é livre de vestir o que quiser e fazer o que quiser do seu corpo. Mas, pelos vistos, para outras pessoas isso é anormal. E não só é anormal como é algo alvo de reprovação. Talvez seja por isso que há tantas injustiças. Porque, para tanta gente, os verdadeiros marginais (mesmo que o sejam) nunca vão ser aqueles que se vestem de acordo com a ocasião, têm o corpo como veio ao mundo e usam o cabelo perfeito. Os marginais vão ser aqueles que usam argolas nas orelhas, gastam dinheiro a fazer inúmeras tatuagens e usam roupas rasgadas e largas, mesmo que no final do dia sejam esses as melhores pessoas do mundo.

E chamam a isto igualdade? Não deveria ser chamado preconceito? A igualdade só vai existir quando deixarmos de avaliar as pessoas pela aparência que possuem ou pelos gostos que têm. A igualdade é sermos todos respeitados por aquilo que somos independentemente do estilo de vida que temos. Todos temos direito a sermos nós próprios mas, acima de tudo, todos temos o direito de não sermos julgados por sermos o que somos. A verdadeira essência da liberdade é essa: sermos o que queremos ser.

Publicado em Capazes.

2 comentários:

  1. Falou tudo! Em pleno século XXI o que a gente vê é um paradoxo onde na teoria se defende a liberdade de expressão, mas na prática só há julgamento sempre, como se o uso de brincos, piercings e tatuagem fosse definir a personalidade de uma pessoa. Muita hipocrisia social!
    Abraçz

    http://motivospelosquaisestoufelizhoje.blogspot.com.br/

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  2. As pessoas dizem-se muito liberais, mas se as coisas não forem como querem então está tudo perdido. É triste que em pleno século XXI as mentalidades continuem tão fechadas

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