quarta-feira, 30 de maio de 2018

Desculpa, não te quis magoar

quarta-feira, maio 30, 2018 2 Comments


Nem sempre magoamos com intenção. Às vezes, magoar alguém é só uma forma de cuidarmos de nós. É um alerta. Uma forma de nos resolvermos. Por vezes, magoar o outro é a única forma de solucionar um problema que insiste em não desaparecer.
Todos já passámos por uma situação em que sabíamos que, se disséssemos ou fizéssemos determinada coisa, íamos magoar outra pessoa. Mas também sabíamos que essa era a única forma de resolvermos os nossos problemas. A verdade é que todos temos personalidades diferentes e, por isso, às vezes entramos em conflito. Para não magoarmos o outro guardamos o que sentimos e vivemos esse problema até à exaustão. Protegemos tanto o outro que nos esquecemos da pessoa que mais precisa da nossa proteção: nós mesmos. Tudo tem limites e chega o dia em que não aguentamos mais. Assim, decidimos pôr a razão à frente do coração e tomamos a decisão que nos parece mais lógica: resolver os problemas que nos sufocam.
Desta forna, às vezes temos de magoar para sairmos de determinados problemas porque, na verdade, em determinadas situações, o outro só percebe que vivemos assombrados por um problema quando o magoamos. Às vezes, magoar alguém é a melhor forma de a proteger. Porque cresce. Porque reflete e, mais tarde, entende. Só assim se resolve o problema. E, no fim, a sinceridade é o caminho.
A frase “Desculpa, não te quis magoar” pode, realmente, ser o caminho. Porque, de facto, na maior parte das vezes em que magoamos alguém, não queremos magoar. Acontece porque todos temos sentimentos e nem sempre sabemos geri-los. A solução é a comunicação. Dizer ajuda sempre. E, no fim, tudo fica melhor.

Publicado em Repórter Sombra

sábado, 19 de maio de 2018

Viver com ansiedade

sábado, maio 19, 2018 3 Comments



A única certeza que tinha era a de que queria retratar algo que fosse meu. O curioso de fazer um trabalho sobre a ansiedade é que ele foi o motivo da minha ansiedade ao longo dos últimos meses ter disparado para um nível nunca antes visto. Chorei quase todas as noites e, quando finalmente conseguia adormecer, era invadida por pesadelos que não me davam descanso. Pensei desistir uma data de vezes porque achava que nunca ia conseguir retratar aquilo que vivo todos os dias, a toda a hora.

Detetei este transtorno pouco antes de entrar na faculdade, mas os sinais começaram muitos anos antes. O problema é que eu própria pensava como grande parte das pessoas. "É tudo normal, faz parte do stress". O nervosismo era normal, o tremer fazia parte e a falta de ar também. Até ao dia em que tive um ataque que me tirou as forças ao ponto de pensar que ia morrer. Nunca me vou esquecer do olhar do meu irmão quando me viu deitada no chão sem conseguir respirar e a soluçar enquanto arranhava todas as coisas à minha volta. Foi aí que tudo se tornou evidente. Para mim, porque para as outras pessoas, muitas vezes, continua a ser tudo normal. É difícil ter de explicar trinta vezes por dia que as minhas mãos tremem mesmo que eu esteja 100% calma. É difícil explicar porque é que já acordo cansada. É difícil fazer as pessoas entender que há momentos em que tudo me irrita, em que preciso de estar sozinha porque o simples respirar da pessoa ao lado me faz ficar ansiosa. No geral, é difícil fazê-las entender. Principalmente quando ouvimos coisas como "todos somos ansiosos de vez em quando". Bem, ser ansioso e ter ansiedade são coisas completamente distintas. 
Pensei em desistir e voltar para casa. Descansar até achar que estava pronta para voltar. Os prazos, ai os prazos... São horríveis para todos, mas para uma pessoa ansiosa são a tortura total. Mudei o rumo deste trabalho umas quantas vezes porque achava que nunca ia ter tempo para nada e nunca nada estava bem. Cansei-me, chorei, parti umas quantas coisas e voltei a tentar. Isto todos os dias. A Sofia expôs-se. A Liliana tirou tempo e mais tempo para estar ali, a dar tudo de si. Foram as minhas duas âncoras. 
Quando, em frente ao professor, tive de explicar cada uma das minhas ideias, não hesitei em dizer: "quero mostrar que a ansiedade não é uma coisa pontual. Nós não somos ansiosos só quando temos um ataque. Somos ansiosos todos os dias, a toda a hora e temos de aprender a viver com isso". Por isso, não me interessa mostrar o que vai na nossa cabeça no dia a dia. É comovente, mas ninguém ia compreender de qualquer forma. Só nós sentimos e cada um sente à sua maneira. Mas quis, com toda a certeza, mostrar os pequenos sinais. Às vezes eles são tão explícitos e ninguém percebe por ser "normal". Nem sempre é. "Afinal, numa sociedade precisamos todos uns dos outros e, por vezes, os olhares que parecem não transparecer nada estão, na verdade, carregados de sofrimento. Um simples olhar ou um conjunto de rabiscos num caderno podem, na verdade, ser pedidos de ajuda camuflados."

terça-feira, 8 de maio de 2018

Viver com ansiedade

terça-feira, maio 08, 2018 3 Comments

Pensei que ia enlouquecer. O coração começou a saltar de uma forma alucinante. Deixei de ter controle na minha respiração e o meu corpo começou a ficar fraco. Viver com ansiedade é isto.
Um dia perguntaram-me se eu já me tinha sentido discriminada por sofrer de ansiedade. Sem querer, um “sim” saiu-me da boca. Engraçado, nunca tinha pensado nisso mas a resposta tinha saído de forma completamente natural. Acho que o meu interior já a sabia há muito tempo. A verdade é que não é fácil seres compreendido numa situação destas. És o mimado, o fraco, a vítima... Acho que só quem passa, sabe. E muitas vezes nem esses. Porque todos somos diferentes e se vives bem com o facto de seres ansioso, vais sempre ver de forma diferente aquele que tem dificuldades em enfrentar o mesmo problema que tu, ao teu ritmo, enfrentaste.
Não é só “ansiedade”. Muitos generalizam como se fosse uma coisa natural. É estares sentada a ouvir uma aula e do nada o teu corpo começar todo a tremer e tu ficares completamente em pânico porque não queres que ninguém repare. Porque sabes que vão olhar para ti com aquela cara de “está a tremer, porque é fraca e está nervosa”. É estares 100% segura de que aquele exame vai correr bem, mas a tua mente insitir em dizer-te “não sejas assim, é óbvio que vai correr mal”. É quereres viver um dia de cada vez mas ouvires o teu cérebro dizer-te “qual futuro? vais ser tão infeliz. Não vais ser nada daquilo que queres”. Mas tu és uma pessoa positiva. E as pessoas sabem disso e, por isso, não querem saber dos dias em que estás mais negativa. “Oh dizes isso mas...”, “oh, amanhã já estás toda animada outra vez”. E isso só mexe mais com os teus nervos. O sangue começa a ferver, o coração a acelerar, as mãos a tremer, ouves as vozes lá no fundo, parece que vais desmaiar. Arranhaste umas quantas vezes porque precisas de libertar energia. Partes umas quantas coisas. Choras, gritas “mas eu sou fraca às vezes, também preciso”. Tiras um tempo para ti. Mandam-te mensagens, chamadas,... “Está estudar”, pensam eles. Abres a porta, sais do quarto, bebes um copo de água, tomas mais um daqueles medicamentos que estás farto de tomar mas que sabes que são essenciais para aguentares mais uma semana de tormento e depois voltas a sorrir. Passado umas horas, está tudo bem. Já acreditas na vida outra vez. O sorriso torna-se verdadeiro. Mas choras porque naquela hora e meia no teu quarto eras só tu. Só tu e a tua ansiedade. E sabes que vai ser sempre assim porque, por mais que as pessoas digam que entendem, nunca entendem. Afinal, somos todos diferentes. E ninguém tem culpa de não entender, exatamente por esse motivo.
Durante estes 3 anos de Licenciatura percebi que a ansiedade não é a pior coisa do mundo. E não é por ser “normal”, como muita gente acha. Mas porque durante estes 3 anos foi a minha companhia diária. Eu aprendi a lidar com ela e ela aprendeu a lidar comigo. Ela ensinou-me a ser mais egoísta e a preocupar-me, em primeiro lugar, comigo. E eu aprendi com ela que mais importante que a nossa saúde física é a nossa saúde mental. Agora, não tenho vergonha de dizer “sou uma pessoa ansiosa” por medo do revirar de olhos do outro lado. A ansiedade ensinou-me que as outras pessoas são apenas isso: as outras pessoas.


Nunca fez tanto sentido.

Até logo, Diamond!

Obrigada pela visita!
Volta Sempre :)