quinta-feira, 6 de outubro de 2016

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A vida não é justa, pois não? E nós, somos?



Hoje, só quero que olhem bem para esta cara. Não olhar como olham para as notícias que lêem na diagonal. Mas olhar a sério, analisar cada feição e o que o olhar transmite. Esta pessoa para a qual estão a olhar já não está aqui. Não vai poder crescer, ter filhos e partilhar tantas aventuras com os seus amigos. Esta pessoa para a qual estão a olhar tinha 14 anos. Uma criança, portanto. Perante a vida, era uma criança, afinal, o que são 14 anos quando se tem uma vida pela frente? São uns míseros números numa vida sem fim. Mas esta teve fim. E teve fim porque vivemos numa sociedade que cada vez mais caminha para o abismo. A verdade é que vivemos na época dos “thug life”, do “swag” e da “vida loka”. Para quê teres uma discussão produtiva com alguém para tentar resolver as coisas quando podes simplesmente libertar toda a raiva que há em ti e espancar a pessoa em questão? É tão mais “cool”. Dá-te muito mais aquele ar de mauzão com quem ninguém se mete e que é respeitado pelo famoso círculo de amigos “rebeldes” que adora mostrar que está sempre ali para o seu amigo mais patrão que não faz mais nada pela vida a não ser vestir “Obey” e arranjar conflitos.

Agora deixando a ironia completamente de parte, apesar de não conhecer este miúdo, é com os olhos húmidos que aqui escrevo isto. Tentei calar-me mas não consegui. Não consegui porque um dia quero ser mãe e este podia ser o meu filho. Não consegui porque tenho um irmão mais novo que podia ser ele. Mas não é. E acho que é assim que muita gente pensa “não me pertence”. Mas e se pertencesse? O problema é mesmo esse. Nunca queremos saber daqueles que “não nos são nada” e fechamos os olhos. Não estamos atentos ao que os outros fazem e muito menos nos caminhos que eles seguem porque “não temos nada a ver com isso”. Mas será que não temos mesmo? Não é dever da sociedade proteger este e tantos outros jovens? Já tive 14 anos e sei que na adolescência achamos que somos os donos do mundo. Tudo o que fazemos está certo e não viramos as costas a um conflito porque “não somos cobardes” nem “meninos da mamã”. Mas também já tive 17 e sei que, nestas idades, três anos fazem toda a diferença não só a nível físico mas também mental. E não sei como é que alguém quase a atingir a maioridade não consegue usar a cabeça e distinguir o certo do errado. Porque chegar aos 18 anos é tornar-nos adultos e “Uau! Já posso tirar a carta de condução”, “Mãe, já não mandas em mim porque já sou independente” mas depois são estas as atitudes que se vêem. E morrem aqueles que tinham uma vida pela frente. Talvez um futuro promissor. Tenho a completa certeza que um dia aquele jovem se vai arrepender e o maior julgamento a que vai ter de responder vai ser a sua própria consciência. Certamente, um dia vai ser pai. O seu filho vai ter os naturais “arrufos da idade” com os colegas por causa das mil e quinhentas namoradas que vai ter durante a vida e das duas uma: ou o ensina a conversar e resolver as coisas ou ensina-lhe o que tão bem sabe, resolver as coisas usando as mãos (e não só, pelos vistos).
Neste momento, meio mundo está mais preocupado em discutir o triângulo amoroso que originou esta morte do que propriamente a morte. A namorada que andava com os dois ao mesmo tempo, o ex-namorado que matou o namorado atual, a namorada que não fez nada para ajudar o namorado e tantos rumores que correm nas famosas redes sociais que deviam servir para divulgar o caso e não para mexericos. Enquanto meio mundo discute este acontecimeto, eu limito-me a olhar para esta fotografia como vos pedi que o fizessem. Confesso que às vezes até choro. A vida não é justa, pois não? E nós, somos? Não sei se seremos. Não nos cabe a nós proteger os “Gonçalos” deste país e denunciar os “Mários”? A vítima precisa de ajuda mas o agressor também. Um jovem problemático torna-se um adulto igualmente problemático se não for ajudado/castigado por aquilo que faz erradamente. E, neste momento, acho que um castigo severo é a melhor salvação. Um castigo que ensine que ser “thug life” não é assim tão fixe. E que espancar alguém até à morte não é ser “patrão”, é destruir uma família, fazer uma mãe sofrer até ao fim da sua vida por ter perdido o seu filho. Um filho que ela deu à luz mas que um idiota qualquer lhe tirou. Não sou a favor da justiça pelas próprias mãos, mas sou a favor de que se pague por aquilo que se faz. Haja ou não arrependimento. E, por isso, só peço que se faça justiça! Não a justiça que se tem visto ao longo dos anos mas justiça a sério!
Agora que olharam bem para esta cara, como vos pedi, estejam atentos a futuros “Gonçalos” e “Rubens”. Não ignorem os jovens só porque “dão umas passas” e “têm a mania”. Jovens são jovens. Uns mais indefesos que outros, é verdade. Mas todos precisam de ser integrados pela sociedade e não serem ignorados só porque “não são o nosso estilo” ou fazem coisas que não nos agradam. Afinal, um ser humano é sempre um ser humano e ninguém merece morrer tão jovem.
A ti, Gonçalo, acredito seriamente que estejas num lugar melhor do que este sítio horrível a que chamam “sociedade”. Acredito que faças falta a muita gente aqui em baixo mas também acredito que os que amamos ficam sempre junto de nós de alguma forma. Apesar de não te ter conhecido, choro por ti como se tivesses passado pela minha vida porque é impossível ficar indiferente a uma coisa destas. Porque também tu foste um Capaz! Descansa em Paz, onde quer que estejas!

Publicado em Capazes.


2 comentários:

  1. Não fazia ideia deste caso. Obviamente pela falta de divulgação, mas realmente cabe a cada um de nos tentar fazer algo para que estas situações se evitem.. Os meus pêsames à família.
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  2. A vida é muito injusta ... um jovem ....


    R : Obrigada!

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