Não tem de doer
Cátia Barbosa
domingo, julho 15, 2018
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D.R.
Um dia destes disseram que me amavam. Uma coisa tão sincera e forte. Nunca fui boa a lidar com isso. Sempre fui melhor a amar do que a ser amada e o medo de "fazer asneira" apoderou-se de mim. Não queria ser o que já foram comigo. Não queria magoar. Não queria fazer doer. Queria ser a pessoa que não consegue retribuir mas que está lá. Que entende. Que apoia. Que ouve e se preocupa.
Durante quase três anos, também amei alguém. Um amor diferente de todos os outros. Daqueles que te tira o ar e que não te deixa dormir à noite. Desta forma, quando alguém me disse que me amava, lembrei-me dessa fase da minha vida. Inspirei-me na pessoa que amei e no que ela foi para mim... diferente de todos os outros. O único amor que não doeu. O único que, ao invés de me fazer sentir pequenina, me engrandeceu. Um amor que, apesar de não ser correspondido, me ensinou que não precisa de o ser para ser mágico.
Esse amor foi o amor que eu quis ser para aquele que, infelizmente, não pude corresponder. Afinal, ninguém pode obrigar ninguém a amar. Mas não retribuir um sentimento não implica deixarmos o outro completamente no vazio. Isso é feio e triste. Quando alguém diz que me ama é o maior elogio que me pode fazer, por isso, eu não vou embora. Não me afasto. Não magoo. Porque raio é que vou partir o coração a alguém que me elogia dessa forma? Dizer que te amam é o mesmo que dizer que existes. Que importas. Que ocupas um espaço importante na vida desse alguém. E isso é tão bonito que nunca entendi porque é que tem de doer. Até conhecer alguém que me mostrou o contrário.
Só dói se tu deixares. Não podes forçar-te a retribuir uma coisa que não sentes, mas podes estar lá. Podes perguntar "o que é que queres que eu faça? Diz e eu faço". Podes escolher aprender a lidar com isso ao invés de fugir a sete pés. Foi o que me fizeram e, por isso, durante 3 anos, não doeu. Porque a pessoa que eu amava soube tomar conta de mim. Soube ensinar-me a ver a vida de outra forma. Soube mostrar-me que eu sou especial de qualquer das formas. Fez-me sentir única, especial. Soube agradecer-me pelo facto de estar lá todos os dias. E isso, por si só, já é um gesto de amor. É compreensão. É ser-se adulto e é saber reconhecer que amar faz parte da vida e só um covarde magoa quem diz que o ama. E eu tive a sorte de, por uma vez na vida, me ter apaixonado por alguém que não era covarde. Que não foi embora e que escolheu ficar até hoje.
Por isso, não. O amor não tem de doer. Podes perfeitamente amar alguém que faz com que doa o menos possível. Alguém que te faça sentir orgulho em amar essa pessoa. "Eu amo-o, mas ele merece". É tão bom sentir isso. Mau é quando amas alguém que não merece. Que te trata como se o amares fosse errado. Nesse caso, vai embora e escolhe amar alguém que, mesmo não conseguindo amar-te de volta, cuida de ti e diz "eu estou aqui".
É esse o tipo de pessoa que eu quero ser. Aquela que cuida e não vai embora. Aquela que dá carinho ao invés de desprezar quem dá tudo por si.