quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Desde que me amo, o meu corpo está mais bonito

quinta-feira, agosto 30, 2018 4 Comments
D.R.


“Mente sã, corpo são”. Há quem, como eu, acredite nesta máxima. A ideia de que a mente comanda o nosso corpo e influencia o seu desempenho. Viver bem com o corpo que temos nem sempre é fácil. E isso acontece porque a nossa mente está sempre numa busca desesperada pela perfeição, sem que se aperceba que ela não existe.
“Estou tão gorda” ou “ sou tão magra, quem me dera ter curvas”, são duas das frases que mais dizemos quando nos olhamos ao espelho. A imagem que passamos para o exterior é importante, mas mais importante que tudo é a imagem que temos de nós próprios. Aquela que vemos ao espelho quando estamos completamente nus e que é refletida pelo estado da nossa mente. Às vezes, aquela gordurinha não existe. A celulite não é assim tanta e as borbulhas mal se notam. Mas basta o nosso cérebro dizer-nos o contrário que nós acreditamos. No fundo, está tudo na nossa cabeça. Se conseguirmos aprender a olhar para nós com uma mente limpa de preconceitos, mais facilmente aceitamos o corpo que nos foi dado.
Ao longo da vida, vamos percebendo que a sociedade está formatada. Um polícia ou um advogado não pode ter tatuagens visíveis. Quantos mais piercings tens mais provável é seres chamado de “rebelde” na rua. É como se tudo o que faças seja avaliado pelo que és por fora. E isso consome-te. Na maior parte das vezes, não te importas se tens uns quilinhos a mais porque sabes que estás linda/o na mesma. Mas a tua mente diz-te que os outros vão olhar-te de lado. Vão chamar-te gorda/o, rir-se e olhar para ti enquanto optas pelas batatas fritas ao invés da salada como se estivesses a cometer um pecado. Mas cabe a ti mudar isso. E, sim, falo diretamente para um “tu” porque sei que tu, que estás a ler isto, já sentiste alguma insegurança com o teu corpo. Já quiseste mudar e já sentiste vergonha de o exibir na praia. Mas, bom, não precisas. O primeiro e único passo para esse sufoco ter um fim é aceitares-te. A partir do momento em que gostares de ti como tu és, a opinião dos outros não vai importar.
Não é um cliché quando dizemos que “se eu não gostar de mim, ninguém gostará”. É a maior verdade existente no planeta. Porque, na verdade, o outro vai sempre encontrar algum defeito em ti. Ou estás gorda ou estás magra de mais. Ou tens celulite ou andas a tomar coisas ilegais para estares com o corpo em forma. Nunca nada serve ao outro. E porquê? Porque é a mente que comanda. E a mente do outro vai sempre procurar algo paa te rebaixar. Porque esse outro também tem inseguranças e, por vezes, rebaixar-te fá-lo sentir-se um bocadinho melhor. A não ser que não deixes. Ama-te e ensina o outro a amar-se. A gordurinha a mais, o peso a menos, a borbulha, a celulite,... Tudo isso faz parte da vida. Com o teu nascimento, isso vem tudo atrás e, um dia, hão-de vir as rugas e os cabelos brancos e vão ficar bem em ti. Porque significam história. A tua história.
Não há um segredo para teres o corpo que vês naquela capa de revista. Mas há um segredo para gostares do corpo que vês ao espelho: amares-te. Amares cada pequenino detalhe. Cada marca, cada cicatriz,... Se perceberes que és única/o e ninguém é igual a ti vais, certamente, amar o teu corpo. E vais desistir de o querer mudar. Porque não tens de mudar. O que é teu é teu e não podia ser mais bonito.

Publicado em Repórter Sombra

domingo, 19 de agosto de 2018

Zézé Fernandes na primeira noite do Festival das Francesinhas

domingo, agosto 19, 2018 4 Comments

Conta com mais de 27 anos de carreira e já marcou presença em mais de mil concertos. Zézé Fernandes faz da música tradicional portuguesa o seu modo de vida e foi este género musical que, no passado dia 2 de agosto, levou ao Festival das Francesinhas, em Peso da Régua.
Alguns dias após o concerto, o artista deu uma entrevista ao Jornal Mira Online onde não só falou do concerto como do seu percurso profissional.

Fotografia gentilmente cedida por Zézé Fernandes

Que balanço faz da noite passada em Peso da Régua?

Foi a primeira vez que subi a um palco na Régua e sinto que fui um pouco vítima dos 30 graus que se fizeram sentir na hora do espetáculo. Apesar de tudo, gostei da experiência e sempre pronto para ir animar a região.

Costuma adaptar os concertos à cidade onde atua ou ao tipo de público?
O repertório poderá ser mais curto ou mais longo, consoante o contratado, mas por norma, sou eu e a minha banda quem se tem que adaptar ao público, seja da aldeia, vila, cidade, motard, estudante, emigrante, etc.

Como surgiu esse gosto pela música?
Peguei pela primeira vez num instrumento quando tinha entre 7 a 8 anos. Comecei sozinho por tirar algumas melodias num acordeão. Mais tarde, em 1982, peguei pela primeira vez no cavaquinho do meu amigo João Guimarães. Toquei cavaquinho no Rancho Folclórico e Etnográfico de Ponte da Barca, bateria no grupo de heavy metal Fieís Defuntos, sintetizadores e percussões no grupo punk rock Atacadores Desapertados, bandolim e braguesa com o artista Luís Portugal (Ex-Jáfumega) e percussões no "Ó que som tem" do percussionista Rui Júnior. Desde 1991 que sou músico profissional em nome próprio, e conto já com uma carreira com mais de 27 anos e mais de 1000 concertos.

Pensou em ter outra profissão?
Sim, pensei em ser um “grande artista” (risos)  mas, como tenho respeitado na integra a minha “carteira de valores”, isso foi um fator impeditivo. Há coisas horrorosas e desonestas no mundo da música que eu não posso aceitar e me deixam bastante à parte do chamado “circuito normal da música” (editoras discográficas, televisões, rádios, jornais, revistas, etc). Se aceitasse já há muito estaria no top 3 dos artistas da minha área. Já lá estive com muito mérito numa altura em que as editoras discográficas não dominavam o mercado e os media.

Como referiu anteriormente, toca diversos instrumentos musicais. Quanto maior a aprendizagem, mais completo se sente?
Toco cavaquinho, bandolim, cavaquinho brasileiro, braguesa, cuatro venezuelano, guitarra clássica, viola baixo, sintetizadores, flauta de bísel, bateria e diversas percussões. E continuo a tentar aprender outros. Não é que toque todos bem, mas toco os mínimos para poder gravar um cd sozinho.

Chegou a estar ligado à sonoplastia da TSF, o que mostra que o som tem, realmente, importância na sua vida. O que retira desta experiência?
O som e a musicalidade fazem parte da minha vida praticamente desde que nasci. A experiência na TSF, além de me preencher com ensinamentos, foi enriquecedora na parte humana, conhecendo muitos amigos que hoje estão distribuídos pelos media locais, regionais e nacionais.

Já conta com uma carreira de mais de 27 anos. Qual é o truque para se manter neste mercado durante tanto tempo?
Gosto pelo que faço, persistência (tantas vezes tive motivos para desistir) e ter uma legião enorme de fãs que me admiram.

Tem 5 cd’s lançados. Há algum que considere mais especial?
Acho que é a primeira vez que me fazem esta pergunta, logo, não estou propriamente preparado para responder. Mas vou tentar. Talvez o último, “Canções & Ilusões” que é o primeiro e único com 12 músicas e letras, tudo da minha autoria.

Porque é que a música tradicional portuguesa se destaca?
Primeiro, porque é nossa e temos que a valorizar. Já passou o tempo em que se apelidava de música para “parolos”. Considero, entretanto, que atualmente há pessoal em excesso a ocupar este espaço na música portuguesa. Qualquer um que toque mal concertina já se acha no direito de querer ser artista. E o mais grave é que parece que há público para isso.

Acha que devia ser mais valorizada?
Acho, mas para isso é necessário fazer primeiro uma limpeza na casa, retirando do mercado os tais que falei na pergunta de cima.

Onde serão os próximos concertos?
Tenho muitos ainda até terminar esta tour, mas destacaria o dia 18 na Concentração Motard de Góis (a 2ª maior concentração motard do país) e, é claro, o dia 22 numa das grandes romarias deste país, a Romaria de São Bartolomeu em Ponte da Barca... A minha terra.



Fotografia gentilmente cedida por Zézé Fernandes


Publicado em Jornal Mira Online


sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Kappa Jotta leva hip hop ao Douro Rock

sexta-feira, agosto 17, 2018 2 Comments

Faz questão de referir a importância que a internet assume na propagação da música, atualmente. Facto que é comprovado através do seu novo single “Fala a Sério” que esteve, durante vários dias, no top 3 dos vídeos mais vistos no youtube.
Kappa Jotta –como é conhecido no meio-, começou a sua caminhada no hip hop, aos 14 anos de idade, com letras que surgiram em forma de desabafo e de escape à realidade que vivia. Desde então, nunca mais parou. O rapper já atuou em grandes palcos, como o MEO Marés Vivas, e não dispensa a proximidade com o seu público a quem chama de “família”.
No passado dia 10 de agosto, levou o hip hop ao palco do Douro Rock, onde provou que, de facto, a proximidade com aqueles que o seguem é o mais importante nos seus concertos. Horas antes da sua atuação, o artista deu uma entrevista ao Jornal Mira Online onde o tema da internet e a interação entre seguidores e artistas esteve sempre presente.

Fotografia gentilmente cedida por Francisco Reis


Entusiasmado para o concerto de logo à noite?

Sim, claro. É sempre bom vir ao Peso da Régua. É muito bonito.

Já não é a primeira vez que vens cá...
Sim, já estive cá nas listas das escolas. E gosto sempre muito de vir cá.

É bom sinal quando voltas mais do que uma vez à mesma cidade?
Sim, acho que sim. Acho que significa que o pessoal gostou e é um bom feedback da própria cidade.

Na tua opinião, porque é que isso acontece? O que é que faz a tua música chegar tão facilmente às pessoas?
Eu costumo dizer que é a internet (risos). Em termos de show, talvez o facto de ser um show com muita energia e bastante intimista ao mesmo tempo. Mesmo em palcos grandes, tentamos sempre ter bastante intimidade com o nosso público, que acaba por ser a nossa família.

Tu és um dos nomes mais influentes do hip hop/rap português e já atuaste em grandes palcos. Como é que se mantém todo esse sucesso nos dias de hoje?
Com trabalho. É ir trabalhando, ir fazendo e acho que é basicamente isso: trabalho. Quanto mais trabalhas e ambicionas as coisas, mais fácil é lá chegares. Se não acreditares nas coisas e não tiveres pessoas contigo que acreditem e te ajudem a andar para a frente, é mais complicado. Se tu fizeres o esforço, os outros acabam por fazer também um esforço por ti. E assim é mais fácil manter qualquer coisa e até mesmo melhorar.

E o público nota esse trabalho árduo e contínuo?
As pessoas que me seguem – a quem eu gosto de chamar família- sabem. Mas eu acho que, o público em geral, não tem noção do que é sequer construir uma música. Não em termos de Kappa Jotta, mas em termos gerais. As pessoas não têm noção do que é o processo criativo de uma música, do que é o processo de tratamento da mesma música, o tempo que demora a ser feita... Essas coisas, se calhar, não chegam ao grande público.

E esse processo de criação também exige inspiração. Se, num dia, não estiverem inspirados demora muito mais tempo...
Sim, claro que sim. Eu não tenho prazos para fazer uma música, por exemplo. Faço a minha música ao meu ritmo. E o meu ritmo é ouvir um instrumental e esse instrumental inspirar-me em alguma coisa. Levar-me para algum sítio.

As pessoas já começam a dar valor a este género musical?
Acho que sim. Se as pessoas não dessem valor ao hip-hop, eu acho que nós não conseguiríamos estar com hip-hop no Douro Rock. (risos)

Nessa aceitação por parte das pessoas, o que é que mudou desde que tu começaste a fazer música até agora?
Mudou muita coisa. A internet veio ajudar muito não só a expandir a música como a mudar a mentalidade de algumas pessoas. Se calhar, antes, a minha mãe não achava tanta piada à internet e, hoje em dia, está sempre nas redes sociais. Portanto, eu acho que a internet vem ajudar muito em tudo. Também mudou muito o facto de termos muito mais pessoas a ouvir este género musical. Antes, se calhar, era menos bem visto pelas pessoas mais velhas que não sabiam bem o que é que isto era. Acabava por ser quase uma reciclagem da música antiga que eles ouviam para uma música completamente diferente a que eles precisaram de se habituar.

Há pouco tempo, lançaste o teu novo single “Fala a Sério” que esteve no top 3 dos mais ouvidos no youtube. Qual é o segredo?
Nós nunca conseguiríamos chegar a este número de pessoas e ter esta interação que temos nos vídeos se não fosse a internet. Ia ser muito mais complicado eu ter só um cd e fazer com que conseguissem ouvir a minha música em Peso da Régua, por exemplo. A internet faz com que eu esteja à distância de um click. A distância é a mesma em qualquer parte do mundo. Isto para te dizer que não existe um segredo ou uma fórmula para tu conseguires atingir alguma coisa. É mesmo fazeres o que tu gostas com amor e com trabalho. As coisas vêm por acréscimo quando tu batalhas por elas. Tu é que tens de ir à procura.

E acaba por ser importante também te adaptares à mudança e à evolução...
Exatamente. Há muitos bons artistas que, se calhar, não têm uma página de facebook ou um canal de youtube. Como é que as pessoas os vão ouvir? Aí está a importância de nos adaptarmos à internet.

O que é que leva um miúdo de 14 anos a querer seguir este caminho?
Quando comecei a fazê-lo, fi-lo porque estava numa fase da minha vida mais complicada em que precisava de desabafar com alguém. E, nessa fase, eu sempre ouvi rap e foi por ali que comecei a desabafar. Eu fui viver para casa do meu pai –com quem não tinha ligação-, mudei de escola, mudei de amigos e tinha de fazer alguma coisa. O rap foi o meu escape. Acabou por ser o pai que eu tive mas não tive. É muito mais fácil tu parares, pensares e escreveres alguma coisa. Renovas o pensamento.

Para terminar, resta-me perguntar-te o que é que podemos esperar do concerto logo à noite?
Podem esperar para ver (risos).

Fotografia gentilmente cedida por Francisco Reis


Publicado em Jornal Mira Online


quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Fingertips: «Temos estado a viver um dia de cada vez»

quarta-feira, agosto 15, 2018 2 Comments

O último dia do Festival das Francesinhas, em Peso da Régua, ficou marcado pela atuação dos Fingertips. O ano de 2018 marca o regresso de Zé Manel à banda que está de volta aos palcos para comemorar 15 anos de carreira.
Energia, emoção e união foram as palavras de ordem do concerto que teve início por volta das 22h30. Durante certa de 90 min, foram recordados grandes êxitos que marcaram estes 15 anos de Fingertips, incluindo “Picture Of My Own” (2003), “Cause To Love You” (2006) e “Melancholic Ballad” (2003). Houve ainda espaço para ouvir o primeiro original de 2018: “My Everyday”, cuja letra o público já sabe decor.
Horas antes do concerto, o Jornal Mira Online esteve à conversa com Zé Manel sobre o seu regresso à banda e a influência que a música assume na união entre todos.

Fotografia gentilmente cedida por: Fingertips

Estão prestes a atuar no Festival das Francesinhas. Entusiasmados para logo à noite?

Claro que sim. Tem sido um verão simpático para nós e estamos muito entusiasmados. Não só porque estamos a fazer quinze anos de história e este é o ano que marca a nossa reunião, mas também porque está a ser um verão muito gratificante.

Como referiste, o ano de 2018 marca o teu regresso aos Fingertips. A música pode ser sinónimo de união?
Tenho a certeza. Acho que a música pode ser sinónimo de muitas coisas. Pode ser a nossa terapia, o nosso grande amor, pode ser sinónimo de intervenção política, de união entre as pessoas... E acho que foi, essencialmente, a música que nos juntou. Acho que foi o nosso legado, aquilo que deixámos para trás e o carinho que as pessoas continuaram sempre a dar-nos, mesmo estando separados durante este tempo todo, que fez com que nos fizesse sentido voltar a tocar estas músicas juntos.

E tu tinhas essa vontade de voltar?
Sendo sincero, acho que da parte de todos nós, há um ano, isto era impossível. Nenhum de nós imaginaria sequer que isto poderia voltar a acontecer. Tanto é que eu estou a gravar o meu terceiro disco de originais a solo e, de repente, quando surgiu esta hipótese de contacto, eu tive de reestruturar toda a minha vida para fazer esta reunião. Mas só neste ano é que faria sentido, porque só este ano fazemos quinze anos de história e foi o pretexto ideal para nos reunirmos de novo.

Como é que surgiu essa hipótese de se voltarem a reunir?
Foi uma coisa muito casual, porque o baterista de Fingertips também continuou sempre a trabalhar comigo. E ele, tal como eu, esteve no processo inicial da banda e, entretanto, decidiu acompanhar-me também a solo e foi através do Jorge (baterista) que foi feito o contacto. O nosso manager falou com ele para saber se haveria interesse e disponibilidade para assinalarmos os nossos quinze anos de carreira. E quando nos encontrámos todos no estúdio parecia que tinha sido ontem. Foi como voltar a casa.

Foi como se não se tivessem separado...
Foi. Sem dúvida. Parece que foi ontem. Parece quando tu sais de casa dos teus pais para estudar fora e, de repente, voltas a casa e está tudo igual (risos).

Já há muitas bandas que começaram por cantar somente em inglês e que, atualmente, já inserem o português no seu reportório. A solo, tu também já cantas em português. Os Fingertips vão continuar a cantar sempre em inglês?
Na Arte, o futuro deve estar sempre em aberto. Aliás, eu acho que nenhum artista deve pôr de parte a hipótese de abraçar outros estilos musicais ou outros idiomas se a Arte assim o justificar. Neste momento, os Fingertips querem manter a sua identidade até porque estamos a celebrar quinze anos de história e as pessoas que gostam do nosso trabalho sempre nos ouviram em inglês. No meu projeto pessoal, eu comecei também a cantar alguns temas em português e, aliás, o meu terceiro disco a solo é o primeiro integralmente em português.

O facto de teres trabalhado tanto tempo sozinho pode ajudar-te a acrescentar alguma coisa de novo aos Fingertips?
Tenho a certeza. Tal como o facto de eles terem tido outras experiências e terem trabalhado com outras pessoas. Nós decidimos seguir caminhos diferentes em 2009 e estamos a juntar-nos novamente em 2018. Portanto, são alguns anos separados em que nenhum de nós parou. Durante estes anos tivemos outros desafios e claro que isso nos enriquece enquanto seres humanos e profissionais. Acho que, hoje em dia, trazemos muito mais riqueza para a banda. Eu sinto isso mesmo em termos artísticos. Em 2018, os Fingertips dão concertos muito melhores que em 2009 e isso também é fruto do nosso trabalho individual.

Referiste há pouco que estão a comemorar os vossos quinze anos de carreira. Ainda há músicas que vocês têm mesmo de cantar em todos os concertos mesmo tendo passado já quinze anos?
Claro que sim. Aliás, eu acho que muito ingrata é a banda que não tocar os êxitos pela qual é conhecida. Nós devemos isso ao público. Se nos fez sentido reunirmo-nos tanto tempo depois é precisamente porque existem esses êxitos que continuam na memória das pessoas e que elas continuam a querer ouvir.

A imagem também é importante?
Geralmente, sim. Quando estamos em cima do palco, quando damos uma entrevista... Claro que sim. Como em qualquer profissão, eu acho que um artista tem de distinguir a sua vida pessoal do seu trabalho. E quando estou em cima do palco estou a trabalhar e tenho a minha roupa de trabalho.

Daqui para a frente, o que nos vão dar os Fingertips?
Nós tentamos levar um dia de cada vez, porque foi uma banda que nos marcou muito a todos. Foi com eles que eu percebi que queria isto para a minha vida. Foi juntos que atingimos os nossos picos de sucesso. Mas quando nos separámos foi uma fase de muita saturação em que, realmente, precisávamos de nos descobrir de outras formas e abraçar outros desafios porque já não nos estávamos a fazer bem uns aos outros. Felizmente, nenhum de nós parou. E portanto, é como te disse, há um ano, esta reunião era impossível. Agora, neste momento que está a acontecer, temos estado a digerir o resultado. Temos estado a viver um dia de cada vez. Há da nossa parte, realmente, uma intenção de fazer mais com os Fingertips. Para o ano, tenho de me dedicar ao disco que deixei parado que está quase a sair. Mas aquilo que eu gostava era de conseguir conciliar os projetos porque são-me os dois igualmente importantes, têm os dois o seu público e acho que, em termos artísticos, são os dois cada vez mais diferentes.

Achas que o facto de se reunirem pode, de facto, unir os vossos diferentes públicos?
Acho que sim. Quando saí da banda, houve fãs da banda que continuaram a seguir-me e outros nem tanto. Mas todos estes anos depois, muitos dos fãs que acompanham o trabalho de Darko começaram a vir também aos concertos dos Fingertips. Muitos deles estão quase como a redescobrir a banda agora. Ver que as pessoas transitam de um projeto para o outro é muito interessante. E, lá está, a música une toda a gente.

Se fosse tirada uma fotografia dos Fingertips neste preciso momento, o que seria captado?
De mim, em dias de concerto, a fotografia que vão apanhar será sempre deitado a dormir (risos). Mas, se nos tirassem uma fotografia a todos neste momento, acho que iam encontrar o que não encontrariam quando nós trabalhámos juntos no passado. No passado, encontrariam um conjunto de jovens que estavam a viver um sonho de maneiras muito egoístas. Neste momento, acho que encontram um grupo de semi-cotas muito divertidos e muito mais unidos (risos). E também muito mais experientes e profissionais. No fundo, a viver isto de uma forma muito mais relaxante e sem pressão.




Publicado em: Jornal Mira Online


terça-feira, 14 de agosto de 2018

HMB: «O nosso grande objetivo é fazer com que o público entre nesse estado de espírito de HMB»

terça-feira, agosto 14, 2018 2 Comments

A terceira noite do Festival das Francesinhas, em Peso da Régua, ficou marcada pela atuação dos HMB. A banda composta por Héber Marques (vocalista), Fred Martinho (guitarrista), Daniel Lima (teclista), Joel Silva (baterista) e Joel Xavier (baixista), deixou toda a energia em palco e partilhou o mesmo estado de espírito que o público. O calor não foi impedimento para a boa disposição e alegria.
Horas antes do concerto, Héber Marques foi o porta-voz de uma entrevista concedida ao Jornal Mira Online. A música, o amor e o percurso dos HMB foram os temas abordados ao longo da conversa.

Fotografia gentilmente cedida pelos HMB

É a primeira vez que vão atuar em Peso da Régua. Entusiasmados para esta noite?

Sim, é a primeira vez que vamos atuar na Régua e, se calhar, a primeira vez que vamos atuar tão perto do Douro. Estamos super entusiasmados!

Vocês costumam adaptar o concerto à cidade e ao tipo de público para o qual atuam ou seguem sempre a mesma estrutura?
Nós temos uma mesma linha. Temos um estado de espírito e gostamos de levar esse estado de espírito para qualquer que seja o palco. O nosso grande objetivo é fazer com que o público entre nesse estado de espírito de HMB. Tentamos influenciá-los mais a eles do que eles a nós. E isso é difícil (risos).

Como é que é a sensação de ter um Globo de Ouro nas mãos?
A primeira vez, eu tinha a certeza que íamos ganhar o de Melhor Canção, com “O Amor é Assim”. Da segunda vez, achava que não íamos ganhar. Então são duas sensações completamente diferentes. Uma em que pensámos “merecíamos mesmo isto” e, na verdade, tínhamos um discurso já preparado. Mas a sensação de segurar o Globo de Ouro é ótima e quando não se está à espera é ainda melhor (risos).

E sentem uma pressão maior depois de terem ganho cada um dos Globos?
Não, de todo. Existe uma pressão, não por causa do Globo, tem a ver mais com uma pressão de superação. A verdade é que fazemos este ano onze anos e precisamos de nos superar musicalmente, evoluir e fazer com que o público evolua conosco. Também não convém nós evoluirmos sozinhos, mas que o nosso público nos acompanhe. Isso também é uma tarefa que temos em mente. Basicamente, acho que essa é a parte difícil. O Globo funciona apenas como uma constatação do bom trabalho que tem sido feito.

Vocês já atuaram no Campo Pequeno e no Coliseu do Porto. Ambas salas grandes. Na tua opinião, o que é que vocês têm que capta o público ao ponto de encher salas como estas?
Honestamente, eu acho que o ser humano se liga a uma boa história. E acho que os HMB têm boas histórias nas canções. Na verdade, são vários fatores mas eu acho que isso tem muita importância. Há muitos cantores que cantam bem, muitos artistas que são bons artistas, mas depois faltam canções que se liguem com o público. Os HMB têm a benção de ter isso. Temos uma banda com boa vibe, bons músicos e eu também não canto mal (risos).

Numa época em que se produz tanta música e, muitas vezes, muito parecida, que outros fatores consideras que os HMB têm que atraem tanto o público?
HMB não é parecido com nada. Mas acho que o facto de não sermos pessoas feias também ajuda (risos). O facto de sermos pessoas bem dispostas, também ajuda. Somos pessoas porreiras, é verdade, e digo isto sem modéstia nenhuma e isso nota-se também em cima do palco. E acabamos por agradar a um núcleo bastante vasto. Obviamente, não chegamos a toda a gente, mas conseguimos chegar ao grande público. Mas acho que, primeiro, começa nas canções.

Achas que é importante as canções chegarem ao coração das pessoas?
É importantíssimo. Eu acho que, seja em que género for, quando a canção é boa, ela não só alimenta a pessoa naquele momento como a segue em qualquer estágio de vida. As grandes canções da tua vida, tu vais sempre lembrar.

E achas que as pessoas se ligam mais às canções de amor?
Claro que sim. Nós temos uma sede insaciável de romance. Nós queremos que as coisas acabem bem sempre. E, na verdade, o amor está ligado a tudo. O amor pela comida, o amor pela mãe, pelo parceiro, pelos animais,... O amor é um denominador comum em todas as áreas. O amor que os HMB têm pelo que fazem também ajuda.

Os HMB existem, enquanto banda, desde 2007. Na tua opinião, o que é que mudou no panorama da música portuguesa desde então?
Muita coisa. O leque de artistas aumentou. Acho que, nestes últimos dez anos, houve um boom da música portuguesa em vários géneros. Obviamente que há estilos de música, como o hip hop, que têm uma vida própria, mas mesmo o hip hop conseguiu entrar mais no mainstream do que antigamente. Acho que a música portuguesa está bem de saúde. O espaço não é grande, mas todos acabam por ter alguma oportunidade.

O que é que te Sabe a Pouco?
A piscina. Antes de vir para aqui fazer som, estava ótima e eu tive de me vir embora. Soube muito a pouco (risos).

Se pudesses escolher o teu Dia D, qual seria?
Vários dias D. O meu casamento, o nascimento dos meus filhos, o primeiro Globo de Ouro, o Coliseu, o Campo Pequeno.. Um momento que não foi televisionado: nós estivemos num almoço que um amigo preparou para nós e foi maravilhoso e esse dia vai ficar na minha mente para sempre, por isso, foi um dia D.

Qual é o teu Feeling em relação a esta noite?
Eu acho que estão reunidas as condições necessárias para haver festa aqui. Normalmente, quando eu entro em palco pergunto às pessoas se estão prontas para festa. E é esse o meu feeling em relação a esta noite: festa.

Fotografia gentilmente cedida pelos HMB


 Publicado em Jornal Mira Online



segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Mundo Segundo: «Eu sou só eu e não tento seguir uma tendência»

segunda-feira, agosto 13, 2018 1 Comments

Edmundo Silva, mais conhecido por Mundo Segundo, é, atualmente, um dos nomes mais incontornáveis do hip hop português. No passado dia 3 de agosto, deixou todas as suas palavras no palco do Festival das Francesinhas, em Peso da Régua.
“Margens do Douro”, “Era uma vez” e “Nada dura para sempre” foram algumas das músicas que fizeram o público reguense vibrar. Na companhia de Maze e Macaia, o artista gaiense marcou presença na segunda noite do festival num concerto que agradou a todas as faixas etárias.
Horas antes do concerto, Mundo Segundo deu uma entrevista ao Jornal Mira Online, onde falou um pouco do seu percurso profissional e artístico.



Fotografia: André Henriques ©Deck97


Costumas adaptar os teus concertos ao tipo de público que tens à frente ou à cidade a que vais atuar?
Há um conjunto de músicas que são a espinha dorsal do concerto. Quando é um público especificamente só de hip hop, por exemplo, o concerto leva algumas músicas para além das de um concerto que não é só para pessoas dessa cultura. No fundo, os concertos divergem ligeiramente consoante o público, mas há uma espinha dorsal que reside em todos os concertos.

Referiste diversas vezes que começaste a fazer rap devido a uma perda que tiveste na tua vida. É mais fácil expressar-nos através da escrita? Achas que isso é uma coisa comum a todos os músicos?
Sim, acho que sim. No meu caso, eu era um adolescente muito introspetivo, não era muito de conversar sobre os problemas que tinha e as palavras ajudaram-me a exteriorizar e a aliviar-me um pouco através da poesia.

Acabas por exteriorizar coisas mas, ao mesmo tempo, também chegas mais facilmente ao coração das pessoas que também já enfrentaram situações semelhantes?
Sim. As experiências são comuns a todos os seres humanos. Em alturas diferentes da vida, todos passamos mais ou menos pelo mesmo com alguma nuance consoante as vidas que cada um leva. Mas, sem dúvida, tudo o que são sentimentos e experiências atinge muito mais rápido as pessoas que se sentem identificadas.

Ao longo destes 20 anos de carreira notas uma diferença positiva na forma como as pessoas recebem o hip hop?
Sim, sem dúvida. Quando comecei éramos, como se costuma dizer, “meia dúzia de gatos pingados” e, hoje em dia, a qualquer lado que vás ouve-se hip hop. Mesmo na terra mais interior do país de certeza que há duas ou três pessoas que fazem e ouvem hip hop. E, por exemplo, há uns quinze anos atrás tu tinhas dois ou três sítios que abriam as portas ao hip hop. Hoje, o hip hop está em todo o lado: nos festivais, nas festas da terra. Por isso, sim, existe uma grande diferença, assim como no número de pessoas que o ouvem que é muito maior.

Porque é que achas que, hoje em dia, as pessoas são mais recetivas ao hip hop?
Sem presunção, eu acho que a culpa é nossa. Nós fomos desbravando o caminho, fazendo com que as pessoas percebessem que fazer rap na língua de Camões era credível e acho que isso foi um passo importante também para a música portuguesa. Porque o hip hop feito em português reavivou a língua portuguesa e, hoje, tu vês muitos grupos de rock que, se calhar, estavam a cantar em inglês e agora já cantam em português e eu sei que isso foi 90% culpa do hip hop. Acho que o facto de cantarmos em português faz com que as pessoas respeitem mais o hip hop.


O rap é um estilo muito característico. A nível mais técnico, que cuidados tens com a voz?
Há dez anos não tinha cuidado nenhum (risos). Fumava muito, dormia pouco... Hoje em dia, tenho alguns cuidados. Por exemplo, não beber coisas frescas, não apanhar frio, dormir bem, porque a voz precisa de descansar. Aquecer um pouco antes de entrar em palco. É preciso sempre ter algum cuidado.

Tu já trabalhaste com os Dealema e, entretanto, em 2006, lanças o teu álbum individual. Aprendes mais a trabalhar sozinho ou em equipa?
É diferente. Num projeto a solo, tu és a única pessoa que conduz. Num projeto com mais pessoas és só um pedaço do motor, digamos assim. E eu tanto sei trabalhar sozinho como ser parte de uma equipa. Adapto-me bem aos estilos e métodos de trabalho das outras pessoas, mas são experiências totalmente diferentes. Gosto muito das duas.

Numa época em que se produz tanta música, na tua opinião, o que é que tu tens que faz de ti um dos nomes mais incontornáveis do hip hop português?
Acho que não tenho nada de mais especial que os outros. Acho que a única diferença, se calhar, é que eu não tento ser ninguém que não sou. Eu sou só eu e não tento seguir uma tendência. Desde o início, sempre tentei definir o meu estilo, seguir a minha linha, os meus ideais e viver a minha realidade. Hoje em dia, há muitas pessoas que vivem de uma realidade inventada. E eu acho que o princípio de seres original é seres tu próprio e não teres que querer ser igual para seres aceite, porque esse é o princípio de marcar a diferença. O “seres tu” é o mais importante neste meio.

Ou seja, enquanto produzes a tua música não pensas tanto no que é que as pessoas querem ouvir mas no que é teu e no que queres transmitir...
Sim. Desde o início, e até hoje, eu faço música para mim. Por acaso tive sorte porque o resto das pessoas gostaram. Mas sempre que vou para o estúdio e vou escrever alguma coisa e produzir, eu produzo para o meu gosto e não porque alguém vai gostar. Se fores uma pessoa que tem conhecimentos e que percebe a arte, a tua auto-crítica e o filtrares o que achas que é mau e bom  já te dá um certo nível. Acho que é importante seres tu próprio a filtrar o que é que é bom para ti e, depois, os outros gostarem, ainda melhor (risos).

Qual é a tua maior “Obsessão”?
Criar. Ser criativo.

Consideras-te um “Anjo ou Demónio”?
Considero-me os dois (risos).

O que é que “Tu Não Sabes”?
Se serei sempre criativo.

Depois de Mundo Segundo, há ainda espaço para HMB e Fingertips no festival que decorre de 2 a 5 de agosto.




Publicado em: Jornal Mira Online


sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Regras: objetivo ou castigo?

sexta-feira, agosto 10, 2018 3 Comments

Dizem que as regras são para cumprir. E têm razão. Se não existissem regras e todos fizessemos o que nos viesse à cabeça, a sociedade seria uma verdadeira barafunda. Mas também há quem defenda que as regras existem para ser quebradas. De vez em quando, também é preciso. E é esta contradição entre cumprir e não cumprir que faz a sociedade avançar.
As regras foram criadas para manter a ordem numa sociedade. Quando criamos regras, o objetivo é cuidar/proteger alguma coisa e educar quem as segue. Há quem as respeite, há quem prefira quebrá-las. Mas, no fundo, há momentos em que quebrá-las é legítimo. Há momentos das nossas vidas em que sentimos que as regras criadas não foram as mais adequadas a determinadas situações. E, por esse motivo, é legítimo que manifestemos a nossa opinião e lutemos pela mudança, mesmo que isso implique quebrar uma ou outra regra. Mas não só. Quando se trata da vida humana e daqueles que amamos, esquecemos as regras. Quebramos tudo o que houver para quebrar porque, no fim, o amor é a coisa mais sem regra que existe. E é esse mesmo amor o maior motivo para infringirmos qualquer imposição.
Por outro lado, as regras são muitas vezes entendidas como uma arma para a educação. A prova disso são os pais. Um pai ou uma mãe tem sempre de colocar regras aos seus filhos. “Não chegues depois desta hora” ou “não deixes os brinquedos por arrumar” e se, eventualmente, a criança não cumpre a regra que lhe é dada, então sofrerá as consequências (castigos). A isto chama-se preparação para o futuro. Uma geração ensina à outra a importância de seguir regras por saber que aquela criança que nasce vai conviver com elas para o resto da sua vida. E, se não as souber seguir, será punida por isso. No fundo, são estas imposições que nos são ensinadas desde que nascemos, que comandam a vida e permitem que ela seja minimamente organizada. Porque sem regras, nada faria sentido. Afinal, se assim somos individualistas, o que seríamos se elas não existissem?
Grande parte da população, cumpre as regras por recear o castigo. Tal como a criança que faz os trabalhos de casa por saber que, se não os fizer, não vai brincar a seguir. Desta forma, nem sempre respeitamos os limites da velocidade por zelarmos pelo nosso bem ou pelo do veículo ao lado. Às vezes, só o fazemos por temermos a consequência que surgirá se não o fizermos. A questão que fica no ar é “se as regras foram inventadas para proteger a sociedade, porque é que não as encaramos como um objetivo ao invés de um caminho para a punição?”


Publicado em: Repórter Sombra.

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