Sérgio Godinho é um
apaixonado pela literatura. Nascido em Figueiró dos Vinhos, foi esta a
localidade que despertou o seu interesse pelas palavras e que, em 2010, lhe deu
o primeiro lugar no concurso de escrita “A minha melhor história em inglês”.
Ao 19 anos, iniciou o
curso de psicologia, na Universidade do Minho (UM), em Braga. Curso que serviu
de inspiração à criação do novo livro Vita Apparatus –um romance sobre a luta
da mente humana, que conta a história de um personagem que decide ativar um
clone seu, anteriormente adormecido na máquina da vida.
“O romance sobre
fevereiro que durará para sempre” é da autoria de Sérgio Godinho que,
gentilmente, contou tudo ao Repórter Sombra sobre o nascimento deste
livro.
Sérgio,
o que pode fazer este fevereiro durar para sempre?
Uma estória passa a
pertencer ao público assim que é editada. Por isso, para que este fevereiro
dure para sempre, basta que os leitores não o esqueçam. Que espalhem a palavra.
Em
que é que se baseia esta máquina da vida de que fala no seu livro?
Se o que estás a escrever
não tem a mínima hipótese de se tornar o melhor que já escreveste, recomeça. Creio
que é esse o meu lema. Quando comecei Vita Apparatus queria criar a melhor obra
que já tinha escrito até então. Não sei se o atingi. Eu penso que sim, caso
contrário nunca o teria editado. A Máquina da Vida foi o ponto de partida. A
vida a nascer por vontade do Homem. De súbito, uma figura divina entre mortais.
Pareceu-me um bom ponto de partida.
O
Sérgio tem 26 anos. Se pensamos que ainda é jovem, ficamos ainda mais surpresos
quando percebemos que, aos 17 anos, venceu um concurso de escrita. Quando e
como surgiu este gosto por transpor histórias para o papel?
A arte não deve ser uma
competição. Livros não devem ser escritos para ganhar prémios. Estórias que
nascem para satisfazer júris não têm outro propósito.
Comecei a escrever
estórias quando tinha 15 anos. Fi-lo de uma forma descomprometida. Era apenas
um jovem a fazer algo que gostava. Nunca pensei em editar. Alguns jovens formam
bandas. Outros gostam de experiências científicas. Eu gostava de escrever
estórias.
Há
muitos escritores que dizem que escrevem mais por necessidade do que por
vontade. É o seu caso?
A minha vida é simples:
se não estou a escrever, estou a pensar em escrever.
Penso que um escritor
deve ser como um maestro. Tudo o que é escrito deve estar preparado para causar
uma reação no público. Fazer parte de um todo. É isso que me fascina na
escrita: o poder das letras. Se consigo imaginar uma vida sem escrita? Consigo.
Também consigo imaginar um mar sem qualquer peixe. Ambos os cenários são
igualmente terríveis.
E
prefere escrever mais sobre si ou sobre aquilo que o rodeia?
Gosto de escrever sobre o
que ainda ninguém viu. “Ficção especulativa” é como Margaret Atwood lhe chama.
Creio não existir nome melhor. Sou um eterno fascinado pelo “e se…”.
Apesar
deste gosto pela escrita, estudou psicologia, o que é curioso tendo em conta
que este seu livro explora a mente humana. A psicologia foi uma ajuda para o
escrever?
A psicologia foi a
origem. Sem a minha formação académica, este livro nunca existiria. Conhecer um
pouco melhor os caminhos da mente humana é uma ajuda para a escrita. Sempre que
falo da minha formação académica com amigos, faço questão de referir que
psicologia é o curso perfeito para quem quer escrever. Todas as estórias têm
algo vital em comum: pessoas.
Acredita
que o sítio onde crescemos influencia o nosso modo de ver a vida?
O local onde crescemos e
as experiências que vivemos moldam a nossa forma de ver o mundo. Não é uma
opinião. É um facto. Tento ter isso em conta quando construo personagens. Se
uma personagem tem alguma opinião forte sobre algo, essa conceção deverá ter
raízes fortes. Ou seja, para construir personagens multidimensionais, temos que
construir um passado forte. Sem isso, não há presente que lhe valha.
É
difícil ser-se um autor independente em Portugal? Porquê?
Ser um autor independente
em Portugal é uma loucura. Não tem outro nome. Não dá dinheiro. Não dá
reconhecimento. Poucas pessoas compram livros. Menos ainda são os que os lêem. Alguns
dizem que leram, mas não o fizeram. Grande parte dos leitores critica o nome do
personagem, a casa onde vivem e até as flores que metemos no quintal. E,
enquanto isso acontece, os escritores independentes preferem acotovelar-se uns
aos outros, na tentativa de chegar a um cume literário imaginário, ignorando
que somos a salvação uns dos outros. Em Portugal, pelo menos, somos todos
loucos. Queremos viver das letras num país que não gosta do seu sabor.
O
que o levou a optar por esse caminho?
A receita para criar um
escritor independente em Portugal é fácil de decorar. Basta pegar num sonhador,
tirar-lhe o bom senso e colocar-lhe um computador à frente.
Se
pudesse ativar um clone seu para lidar com uma parte da sua vida, para onde o
encaminharia?
Eu nunca o ativaria.
Publicado em Repórter Sombra
Que conversa maravilhosa! Não conhecia o Sérgio, mas fiquei com imensa vontade de ler o seu livro :)
ResponderEliminarNice post
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Olá Cátia!
ResponderEliminarAdorei a entrevista com o Sérgio, muito bom compartilhar um pouco da mente de um escritor.
Interessante saber que a realidade em Portugal a respeito do hábito de leitura e a vida de escritor não é muito diferente da que temos aqui no Brasil.
Ótima semana =)
Que caminho bonito levou esta entrevista. Obrigada por partilhares um pouco do sérgio connosco e parabéns pelo conteúdo.
ResponderEliminarAmo entrevistas, acho maravilhoso conhecer mais da obra, do escritor. De como começou. Não conhecia o autor e nem a obra e achei ótimo conhecer.
ResponderEliminarBeijos.
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