Dar valor. Na vida, tudo se
resume a isto. Dar valor à família, a um amigo, ao amor que nos enche a alma
ou, simplesmente, a momentos. Valorizar cada instante que temos nesta aventura
que, um dia, terminará. E nenhum de nós quer partir com um sentimento de culpa
por não ter estado quando devia estar ou não ter aproveitado quando a
oportunidade surgiu.
Aos 24 anos, uma das frases que
mais ouvi ao longo desta minha passagem pela vida foi “só damos valor quando
perdemos”. Ouvi este quase provérbio na infância, na pré-adolescência, na dita
adolescência e, agora, na fase adulta. Ouvi-a da boca de jovens, de adultos e
de idosos. De pessoas com e sem instrução. De empregados e desempregados. No
fundo, de toda a gente. Já toda a gente, em algum momento, disse ou ouviu esta
tão conhecida frase.
Cresci habituada a refletir
sobre o que me rodeia e, ao longo destes anos, tenho pensado sobre este “damos
valor quando perdemos”. Quando criança, - como qualquer criança que diz tudo o
que pensa -, afirmava “se as pessoas sabem que só dão valor quando perdem,
porque se deixam perder para dar valor?”. E aquela frase que, dita por uma
menina, parecia confusa, hoje, aos 24 anos, parece-me fazer todo o sentido.
Porque é que todos proferimos esta frase mas raramente fazemos alguma coisa
para a mudar?
Certo é que o primeiro passo
para alterarmos alguma coisa está em identificarmos a origem do problema. Ora,
a origem do problema aqui já está identificada. É dedicarmos pouco tempo ao
outro. Acreditarmos que cada um de nós tem a sua vida. Quando, na verdade,
dependemos todos uns dos outros. Dependemos de abraços, de sorrisos, de noites
passadas à lareira a contar histórias e de palavras que nos caem no ouvido e
nos emocionam quando ditas pelos que amamos. Mas pouco fazemos para saborear
cada um destes momentos.
Percebemos que esta é a origem
do problema quando, ao questionarem-nos sobre “e se hoje fosse o teu último dia
de vida?”, respondemos sempre da mesma forma: diria que amo a quem amo,
abraçaria quem sempre quis abraçar, pediria desculpas aos que magoei. O que não
nos passa pela cabeça é que, no segundo a seguir a respondermos a esta
pergunta, podemos realmente partir para outro sítio. Um sítio que não sabemos
se existe. E não fazemos nada do que gostaríamos de fazer “se este fosse o
nosso último dia de vida”.
Sabendo de tudo isto porque é
que, durante 24 anos, ouvi sempre a mesma história? Porque é que continuamos a
precisar de perder para valorizar o que quer que seja? Provavelmente porque
somos todos egoístas. Porque sabemos como isto pode terminar mas preferimos
acreditar que não. Porque teimamos em enganar-nos a nós próprios acreditando
que há sempre tempo. Que podemos abraçar amanhã, encontrar aquele sorriso um
dia destes, contar histórias à lareira no inverno seguinte e ouvir o que os que
nos amam têm para nos dizer quando tivermos um minuto livre na nossa agenda
preenchida por tudo e por nada ao mesmo tempo.
Mas a novidade que não é
novidade alguma é: não há tempo. Enquanto escrevo este texto, há filhos a
perder os pais. Pais a perder os filhos. Avós a partirem sem verem os netos há
meses ou até anos. Mas a culpa é de tudo menos do tempo. O tempo corre sem que
se possa controlar. Todavia, nós decidimos o que fazemos com ele. Talvez a
nossa falta de tempo está em insistirmos que temos tempo a mais para pensar,
dizer e mostrar. Até ao dia em que, na verdade, o tempo acaba. A vida ensina e
talvez o maior ensinamento que ela nos dá seja aquele a que, curiosamente,
damos menos valor: valorizar antes de perder.
Publicado em Repórter Sombra
Oi Cátia!
ResponderEliminarAntes de mais nada, parabéns pelo mestrado, muito sucesso em sua jornada!
Quanto ao aproveitar as coisas e não deixar que elas terminem para nos darmos conta do seu valor, acredito que o principal ponto é nos darmos conta. Precisamos entender que cada momento é precioso, cada pessoa tem valor inestimável e que cada experiência que vivemos pode nos ensinar muito. Infelizmente nossas vidas são vividas como se estivéssemos sempre correndo atrás de algo que não chega nunca. Um futuro ideal no qual esperamos para ser felizes. Aí está o problema, ficar esperando o tal momento de ser feliz e não dar valor para o que temos hoje.
Não é que não temos tempo, a questão é que não usamos nosso tempo para o que realmente tem valor.
Eii... não suma do blog mais não :P
Ótima semana :)
Tão verdade...
ResponderEliminarNunca concordei muito com o ditado que diz que só damos valor quando perdemos, porque a nossa postura deve ser exatamente a oposta: valorizar para não perder.
ResponderEliminarExcelente reflexão, minha querida
O tempo por si só é infinito. Desde o tempo dos mais antigos que há dia e noite. Horas, minutos, segundos...
ResponderEliminarE o nosso tempo também é mais do que no tempo dos descobrimentos, por exemplo. A esperança média de vida aumentou imenso. A humanidade evoluiu, tudo à nossa volta evoluiu. E nós continuamos a ter dois, olhos, uma boca, um coração e dois braços. Para falar com aqueles de quem gostamos, para os vermos, para sentirmos que o que sentimos é real e para os abraçar. Hoje em dia nem precisamos de estar perto. Podes estar no Japão e outra pessoa em Portugal e consegues estar mesmo sem estar fisicamente. Mas voltando ao tempo, o tempo não muda, nós é que mudámos. Queremos tudo, viver tudo e vivemos depressa demais. Não saboreamos as pequenas coisas, não falamos com algumas pessoas, porque hoje temos muito que fazer e amanhã pode ser que dê. Mas chega o dia em que é tarde demais. O tempo passa sempre à mesma velocidade. Um segundo de cada vez. E só nos damos conta do quanto um minuto demora a passar quando paramos à frente do microondas à espera que o arroz aqueça. (que se tudo correr bem não estará queimado)
Pessoas como tu amam pessoas, nem sempre essas pessoas foram postas na nossa vida para ficar para sempre, mas sim por um propósito qualquer. Sinto que esse foi o meu caso. E apesar de tudo ainda vou estando por cá porque acho que o nosso tempo ainda não chegou ao fim. Se é para sempre não sei, mas durará o tempo que for preciso.
Com 24 anos já viveste tanto, mas ainda tens tanto para viver. Vives a uma velocidade estonteante. Desacelera, aproveita e vive a vida. Dá os abraços todos que queres dar, lê os livros que queres ler. Ouve aquela música que andas para ouvir há tanto tempo, vai àquele concerto, àquele restaurante. Visita aquele amigo que não vês há muito tempo, relembra alguém que apesar de tudo ainda te lembras. É preciso não ter medo do tempo. Ele não nos limita, nós é que mandamos nele. 🍀
Que texto forte!!! Exatamente, parece que damos valor quando perdemos. Que poderíamos ter tirado mais tempo para aproveitar e fazer mais coisas com as pessoas que amamos, fazer mais, estar junto, dar um beijo e um abraço. Não precisamos esperar perder vamos valorizar e viver o agora.
ResponderEliminarBeijocas.
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