Viver em sociedade é,
obviamente, partilhar a vida. Há uma série de características que todos temos
em comum porque nos são inatas. O facto de pensarmos é uma delas. É inevitável
pensar mesmo que, por vezes, não queiramos. O pensamento faz parte de nós como
um braço ou um pé.
Descartes defende que o
pensamento é sinónimo de existência. Se eu “penso, logo existo” é inegável que
refletir é inato ao ser humano. Não há forma de impedir que isso aconteça no
nosso cérebro... ou de bloquear pensamentos. E é uma tão grande verdade que já
todos tivemos aquele momento em que gostávamos de carregar num botão e desligar
o nosso cérebro para impedir que certos pensamentos nos invadissem; ou nos
tirassem o sono; ou nos trouxessem para a realidade.
Há quem afirme que pensar
faz mal. Mas quando? Quando os pensamentos ecoam na nossa mente nos limitam.
Quando nos fazem sentir mal. Quando nos tentam dizer que não vale a pena ir em
frente e nos travam. Quando, acima de tudo, nós deixamos que eles nos parem.
Quando lhes damos ouvidos em circunstâncias em que eles não nos dizem nada de
positivo. Quando decidimos ficar sozinhos com eles. Sem mais nada ou ninguém. É
aí que pensar faz mal.
Se Descartes afirmava que
para existir temos de pensar é incrível concluir que, por vezes, são os
pensamentos que impedem a nossa existência. Há dias, meses e anos em que eles
ecoam na nossa mente e não querem sair sussurrando palavras mórbidas que nos
fazem acreditar que não somos suficientes, que o amanhã pode não ser o que
queremos que seja e que a positividade não existe. É nestas alturas que o botão
desligar seria a solução ideal. No entanto, na falta dele, basta contrariá-los.
Como contrariamos o nosso pai ou a nossa mãe quando não queremos arrumar o
quarto.
Afirmarmo-nos perante os
nossos pensamentos é devolvermo-nos à nossa existência. Ter controlo sobre nós.
Ouvir mil e uma vezes aquele eco e saber definir qual é o que nos vai ajudar e,
pelo contrário, qual nos vai destruir. Quando conseguirmos lidar com os nossos
pensamentos e aniquilar os que nos fazem mal, aí sim, existiremos. E, nessa
altura, existir será o ponto de partida para tudo o resto.
Publicado em Repórter Sombra
Incrível como sempre. Tens mesmo o dom da escrita. É bom de ver que voltaste aos posts com maior regularidade :)
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