A Companhia de Teatro ADN dedica-se à criação. Com sede em Coimbra, os
ADN criaram uma proposta com o objetivo não de levar as pessoas ao teatro, mas
de levar o teatro às pessoas. Deste modo, todos os espetáculos são preparados
de forma a poderem ser levados a diferentes espaços físicos, promovendo uma
maior aproximação com o público.
Escolas, salas de espetáculo,
bibliotecas, lares, instituições e festas temáticas são alguns dos locais onde
é possível encontrar esta companhia de teatro.
A companhia ADN caracteriza-se como
“um composto orgânico cujas moléculas contêm as instruções genéticas do
talento”. Em entrevista ao Repórter
Sombra, Filipe Lima (ator, diretor artístico, encenador e produtor da ADN),
falou sobre este projeto.
“O teatro não se repete. Em cada representação, nasce uma
nova personagem”. É isto que se passa quando a vossa companhia entra em
palco?
Surgem
sempre aquelas "borboletas na barriga" quando entramos em palco, seja
ele qual for ou onde for. Por muitos espetáculos que façamos, o público e o espetáculo
em si serão sempre diferentes, nós mesmos enquanto atores e/ou personagens,
seremos sempre diferentes. Nenhum espetáculo é comparável, nenhum espetáculo é
igual. O espetáculo e os atores mantêm-se sempre numa constante procura de algo
mais, em fazer melhor a cada atuação, em procurar mais do seu "eu"
pessoal e do seu "eu" enquanto personagem. O público alimenta-nos enquanto
personagens e nós alimentamos dessa mesma matéria, enquanto atores, as
personagens. O teatro é dar e receber. É um jogo, como um passar da bola entre
nós no palco e o público na plateia. Das reações que essa "bola" traz
nós retornamos com uma nova reação. Nunca se sabe qual será essa mesma reação.
Estamos sempre de ouvidos e olhos bem abertos. Antes de entrar em cena dizemos
“Ação-reação! Com energia!" e é essa energia que se torna o “alimento”
neste contacto entre ator/personagem e o público.
A ADN de Palco foi fundada em Dezembro de 2017. É ainda
recente. Como é que tem sido a aceitação por parte do público?
A ADN de
Palco é um projeto recente mas que se tem tornado muito intenso. Sentimos que
temos crescido e evoluído muito enquanto empreendedores, profissionais na área
e claro, como jovens e seres humanos. Sabíamos, por tanto que se planeou e
projetou, que não poderíamos esperar menos, mas a verdade é que a reação da
aceitação do público tem-nos surpreendido imenso. Tem sido deveras um feedback
positivo, seja da parte das crianças como dos adultos, da parte de quem nos
acolhe, professores, investidores, produtores, contratadores, entre outros.
Ainda
estamos a crescer, é um facto. Mas o público que se tem mantido estável e
presente, assistindo muitas vezes mais do que uma vez aos espetáculos, tem dado
um feedback positivo e de encorajamento. O que nos faz acreditar cada vez mais
neste projeto. Tudo isto nos deixa gratos e satisfeitos com este projeto que
não é só nosso, mas de todos. Pois o teatro faz-se do coletivo sendo ele
atores, equipa e público. Isto é tudo graças ao nosso público, a pensar neles,
com o objetivo de tornar a nossa sociedade uma sociedade melhor, mais culta,
mais humana e com mais adesão a estes projetos sejam eles recentes ou não.
Somos uma
companhia recente, mas que pensa e projeta um grande futuro. E sem o público
lá, nada faz sentido, eles fazem-nos acreditar e sonhar . Fazendo com que no
final de cada espetáculo, nos deitemos nas nossas camas com o pensamento de
missão cumprida e de coração cheio.
Numa fase em que se fala tanto na falta de apoio à cultura é
preciso ser-se corajoso para fundar uma companhia de teatro?
Não importa
ser corajoso, importa sonhar e ser ambicioso. Sabíamos, desde o início quais eram
os prós e os contras com este projeto. Sabíamos minimamente quais as
dificuldades que iriamos ter de ultrapassar. O sonho e a vontade eram maiores,
e como ambos (Eu e a Teresa Roxo) não estávamos a ter sucesso na procura de
trabalho profissional na área, devido à lastimável condição das companhias de
teatro atualmente, decidimos arriscar neste projeto e ir em busca das nossas próprias
oportunidades lutando, assim, contra toda essa inquietação para ultrapassar
esta "crise" que se encontra o teatro em Portugal. Até à data, a ADN
de Palco não conta com quaisquer tipo de apoios e/ou patrocínios, somos uma
companhia ainda autossustentável onde nós somos os investidores de cada
projeto. Juntou-se à direção, o Diogo Carvalho, também encenador e diretor de
outros projetos da ADN e este também acredita que podemos crescer muito como
companhia profissional e que temos muito ainda para alcançar. Contamos,
futuramente, em solicitar apoios e patrocínios, mas está sempre presente na
nossa cabeça que o "não" será sempre garantido, e temos as nossas
estratégias para contornar a situação, como fizemos até hoje.
E quando se arrisca a trazer algo novo ao público, o que é
que se tem em mente?
Em mente
temos esse mesmo elemento "O público". O nosso lema é "fazer espetáculos
para crianças a pensar nos adultos". Primeiramente, queremos que o espetáculo
seja sempre facilmente adaptável e acessível a todas as pessoas e idades, que
mantenha a sua itinerância, que seja diferente do que já foi feito, que
surpreenda o público e que o mesmo sinta a nossa "evolução" e a nossa
"revolução". Evolução pois mantemo-nos sempre à procura de algo novo,
melhor, irreverente, diferente, surpreendente, com novos materiais, novas técnicas,
mais investimento, entre outros de maneira a que se torne notável uma evolução
no nosso trabalho. Revolução acontece pois quem faz do teatro uma revolução são
as pessoas, o público. A nossa intenção enquanto atores e seres-humanos, é que
a cada novo projeto seja revolucionário teatralmente e emocionalmente. Portanto
ficamos imensamente gratos por podermos ter a oportunidade de mudar para melhor
a vida de alguém, isso para nós é uma revolução! São esses os dois lemas que
temos em mente a cada novo desafio e prometemos continuar a evoluir e a
revolucionar a cada novo projeto.
Vocês costumam deslocar-se a qualquer local para poderem dar
o vosso espetáculo. O teatro é vivido de outra forma quando é ele a ir ao
encontro do público e não o contrário?
Como foi
referido anteriormente por vós “O teatro não se repete. Em cada representação,
nasce uma nova personagem”. Com isto, nasce, também uma nova representação, um
novo espetáculo seja nesse encontro com o público ou quando este vem ao nosso
encontro. O que importa para nós, realmente, é que nos encontremos. É nesse
encontro que acontece a magia do teatro. Quando vamos a uma escola, é natural
que se percam alguns elementos dos nossos espetáculos, como as luzes, o
panejamento, entre outros elementos que existem num auditório normal. Mas
acreditamos que o público nem pensa na falta desses elementos. A cada novo
projeto da ADN, tentamos sempre melhorar a sua itinerância de maneira a que
consigamos levar sempre o "grande" espetáculo a todos os sítios e que
nada falte ou falhe. O público merece essa atenção. Mas concluímos que nesta
arte, o que importa é que realmente se "viva" o teatro, de todas as
formas possíveis e imaginárias. Que surja esse "encontro" e que as
pessoas saiam a pensar, a sonhar e a questionar-se daquilo que acabaram de
assistir.
E qual é o melhor público?
Todos os
públicos são um bom público. Basta a sua presença para nos deixarem já de coração
cheio. Um público infantil é sempre algo mais desafiante pois nunca sabemos
quais serão as suas reações e muitas vezes as crianças tiram-nos o
"tapete". As crianças são espontâneas e a sua reação é sempre
verdadeira e conseguimos ter mais retorno em feedback sobre o nosso trabalho.
Um público misto, familiar, é para nós muito importante. É essencial os pais
acompanharem os filhos ao teatro e viveram essa experiencia em família. O nosso
slogan é "Espetáculos feitos para crianças a pensar nos adultos", e
se ambos estiveram lá, melhor ainda. Conseguimos ter imensas reações, imensas
mensagens que se passam e que retornam para nós que estamos no palco.
Acreditamos que um público misto seja mais mágico e que torna o nosso projeto
mais completo.
Vocês têm uma programação especialmente dedicada às crianças
e, recentemente, estiveram em cena com a peça “Menina do Mar – O Musical”. Que
feedback têm recebido por parte das crianças e das escolas?
Este
projeto, surge como comemoração do centenário do nascimento de Sophia de Mello
Breyner Andresen. A obra foi adaptada ao teatro musical numa versão didática e
mágica dedicada à infância que nos leva até ao misterioso universo do Mar no
imaginário de Sophia de Mello Breyner Andresen. É um espetáculo que faz
reflexões sobre temas importantes: a saudade, a amizade, o sonho, o medo, a
alegria, o imaginário, a Terra, o Mar, as estações do ano, a poluição, a
reciclagem, entre outros e sentimos que as crianças e os adultos conseguem
entender cada mensagem e a importância de cada um desses temas devido às suas
reações no decorrer do espetáculo e no seu a pós. Temos sido parabenizados pela
atenção que temos em cada projeto com as crianças e de para além do fator
"entretenimento" tentarmos sempre passar algo educativo e emotivo às
crianças (e aos adultos!). As críticas têm sido muito positivas e há pessoas
que já assistiram mais do que uma vez ao espetáculo. Recebemos muitas vezes
mensagens a dizer que os filhos sonharam com algumas personagens da história, o
que nos deixa sensibilizados e de sorriso no rosto. O público intitula que é
"O melhor espetáculo da ADN de Palco" e que o projeto é um espetáculo
divertido e sensível, adoram as divertidas personagens e os seus figurinos
coloridos, assim como o "fator surpresa" do cenário. Dizem, também,
que saem do auditório "mais sábios, mais humanos". A nosso ver, é um
espetáculo que ficará para sempre na memória de crianças e adultos!
“Um composto orgânico cujas moléculas contêm as instruções
genéticas do talento”. É assim que vocês se definem. Como surgiu a oportunidade
deste composto orgânico se juntar?
Em Dezembro
de 2017, eu tive a ideia de fazer o Principezinho- O Musical- devido à experiência
vivida na companhia profissional de teatro infantil TEATROESFERA. Não conhecia
pessoalmente a Teresa Roxo, mas era fã do seu trabalho em palco. Então, entrei
em contacto com a mesma para a desafiar com este projeto. Esta aceitou,
produzimos todo o espetáculo, selecionando por casting os atores que cumpriam o
requisito desse mesmo "composto orgânico" para, assim, estrear em
Março. Todo o processo foi feito de maneira mais profissional possível, mesmo
sem saber que se tornaria mais tarde uma companhia profissional. Depois de
estrear, o feedback foi mais que positivo e imensas pessoas acreditavam que o
projeto teria futuro. Como ambos não estavam a ter sucesso na procura de
trabalho profissional na área decidimos investir e acreditar neste projeto como
um futuro estável na nossa carreira. Posto isto, decidimos tornar o projeto
oficialmente profissional, arriscar em novas produções, contratar novos
elementos profissionalizados na área e temo-nos mantido sempre à procura de
novos compostos orgânicos que complementam este "ADN de Palco" que
temos presente.
Sentem que têm deixado, de facto, o vosso ADN em todos os
palcos por onde têm passado?
Em respostas
anteriores, meio que já conseguimos responder a esta pergunta. Comecemos pela
escolha do nome "ADN de Palco"- ADN é uma parte de nós e PALCO é onde
se baseia a nossa vida. Posto isto, acreditamos que a resposta seja um "sim",
avaliando todo o feedback das pessoas que viram e de todos os palcos que
pisámos. Felizmente, temos conseguido manter um público estável, que nos
acompanha sempre a cada nova produção, e estreia após estreia temos tido
presente sempre uma lotação maior e melhor. Os espetáculos têm esgotado quase
sempre. As entidades contratadoras, querem contratar os nossos serviços
novamente e novas entidades entram em contacto connosco. As pessoas falam
connosco, acompanham-nos, abraçam-nos e agradecem-nos. Este projeto só é possível
graças a tudo isso, e é por isso que continuamos nesta luta, a querer fazer
mais, melhor e diferente. Queremos continuar a desafiar-nos, a nós e ao público,
a encantar e encher de magia cada palco e/ou escola que passamos partilhando
sempre este ADN que acreditamos que é "sentido" por cada espectador
em cada espaço que vamos.
Entrevista publicada em Repórter Sombra.
Que conversa tão maravilhosa! Obrigada por partilhares connosco *-*
ResponderEliminarGostei de conhecer esta versão bastante interativa do teatro! Deve ser ótimo de assistir. Beijinhos
ResponderEliminarnice one
ResponderEliminarhttps://www.stylebasket.in
Oi Cátia!
ResponderEliminarQue incrível o trabalho da Companhia ADN. Adoro teatro e ver que eles estão levando isso direto ao público, popularizando essa arte, é muito bom!
Muito sucesso para eles!!