Já perdi a conta ao
número de vezes que ouvi a frase “andas desaparecida”. Já todos a ouvimos. Já
todos a dissemos também. E, com o tempo, foi-se tornando numa das frases que
mais me custa ouvir.
Eu não ando desaparecida.
Vivo no mesmo sítio há 5 anos, tenho o mesmo número de telemóvel desde os 12
anos, tenho redes sociais e vou a casa dos meus pais todos os fins de semana.
Portanto, não é muito difícil encontrar-me. O que é difícil é ver na amizade
uma prioridade. Para os outros, só “desaparecemos” porque deixamos de ser uma
prioridade. Uma das coisas que os meus pais me diziam quando eu era pequena é
que, com o passar do tempo, o meu número de amigos ia diminuir. E isso só
tendia a piorar até ficarem só um ou dois. Conforme fui crescendo fui
percebendo que eles tinham razão. A lista foi ficando mais curtinha, mas sempre
melhor. Porque só fica quem tem de ficar. A forma como nos vamos afastando
daqueles que, hoje, estão perto é sempre a mesma: a amizade está lá mas,
lentamente, vamos ficando no final da lista. Há outras prioridades que vêm
antes de nós. O emprego, o descanso, as relações,... E depois ouvimos a célebre
frase “não tenho tempo para nada”. Mas há sempre tempo quando se quer ter
tempo. Com o passar dos anos, deixei de procurar quem dizia “não ter tempo”.
Meti na cabeça que essas pessoas sabiam onde me encontrar e que, “quando
tivessem tempo”, o podiam fazer. Claro que não o fizeram. Porque o tempo é só
uma desculpa. Uma desculpa para não estar. Na vida, sigo a máxima “fazer o
longe ficar perto”. Isso exige tempo. Tempo para ligar. Tempo para perguntar
“estás bem?”. Tempo para ouvir. Tempo para conversar. E esse tempo existe
sempre. Porque um amigo é sempre uma prioridade. E nós temos sempre tempo para
as nossas prioridades.
Lembro-me que, quando era
pequena e dizia à minha avó “tenho saudades desta pessoa”, ela respondia sempre
“sabes onde ela mora, não sabes? Então não tens desculpa para teres saudades”.
E é isso mesmo: não há desculpas.
Publicado em Repórter Sombra
Vivemos demasiado na nossa concha e a achar que têm que ser os outros a dar o primeiro passo. Mas, lá está, matar essas saudades também depende de nós.
ResponderEliminarNão há qualquer mal em termos prioridades diferentes, mas seria melhor se fossemos mais sinceros em relação a isso
Por acaso tenho uma publicação preparada acerca do assunto, muito diferente na abordagem, mas semelhante na mensagem, no sentido em que muitas pessoas não dão prioridade às amizades como deviam dar.
ResponderEliminarBeijinhos
Blog: Life of Cherry