Todos mentimos. E quem
diz que nunca mentiu está, por si só, a mentir. A mentira faz parte de nós como
as lágrimas ou os sorrisos. É algo que nem sempre conseguimos controlar ou
explicar.
Uns mais, outros menos.
Uns não conseguem controlar, chegando mesmo a desenvolver uma doença. Outros
fazem-no porque se sentem melhor. E há ainda quem minta por achar que é a única
opção. A mentira está no nosso ADN. Não há como negar que já recorremos à mentira
em alguns momentos das nossas vidas. Mentimos aos nossos pais, aos nossos
amigos e, o que nem sempre damos conta, mentimos a nós mesmos. Este último
ponto é, em parte, aquele sobre o qual menos refletimos.
Já todos ouvimos a
célebre frase “todos os adolescentes mentem aos pais de vez em quando”, seguida
de um “eu sei porque já tive a tua idade”. Verdade. Já todos o fizemos ou
porque sabíamos que os nossos pais não iam concordar com a verdade ou porque
acreditámos que mentir seria a única forma de os proteger. No entanto, são
poucas as pessoas que admitem que já mentiram a si mesmas. Mas a verdade é que
isso também é uma realidade comum a todos nós. E se alguém a nega, então, ainda
não se apercebeu disso.
Refletir sobre a mentira
é examiná-la atingindo o nosso íntimo. Porque mentimos? O que é, de facto, a
mentira? Acredito que não é nada mais nada menos do que a fuga à verdade.
Muitos poderão dizer “Claro! A mentira é o oposto da verdade” mas, no fundo,
isso não implicaria que o nosso propósito fosse fugir a essa mesma verdade. Mas
é. Nós é que nem sempre percebemos e é aí que entra a importância de
percebermos porque é que mentimos a nós mesmos. Se o entendermos, concluímos
que a mentira é usada para fugir à verdade. Mentimos quando dizemos que estamos
bem, porque queremos acreditar que estamos bem. Mentimos quando dizemos que já
vimos todas as séries que o nosso namorado viu, porque queremos acreditar que
ter coisas em comum faz com que tudo funcione. Mentimos quando dizemos que não
se passa nada, porque queremos esquecer que se passa alguma coisa.
No fundo, a mentira é um
escape. É uma forma de fugirmos à verdade que nos dói ou que vai doer se
dissermos à pessoa a quem estamos a mentir. É vista como uma coisa negativa
mas, na realidade, é muitas vezes utilizada como um escudo protetor. No
entanto, e apesar de estar na nossa genética, não deve nunca ser a solução, por
mais que nos proteja ou a quem amamos. Só vai parar de doer quando admitirmos
que dói. Só vamos ficar bem quando admitirmos que estamos mal. A relação só vai
funcionar quando admitirmos que nunca vimos aquela série mas que a queremos
ver, lado a lado com a pessoa amada.
A honestidade é a chave
para tudo. E, por vezes, mentir afirmando que está tudo bem e ver o outro
acreditar sem fazer perguntas corrompe ainda mais o nosso íntimo. Às vezes, a
melhor solução é chorar, dizer a verdade e acreditar que um abraço vai surgir
como fruto da sinceridade. Dizer a verdade, significa resolver. Mentir é apenas
adiar. Cabe-nos a nós decidir se queremos seguir em frente ou ficarmos no mesmo
lugar.
Publicado em Repórter Sombra.
Todos nós mentimos. A grande diferença é que muitos fazem-nos em situações esporádicas e outros optam por fazer disso vida.
ResponderEliminarA verdade pode magoar, mas acho que é sempre preferível ouvi-la! Por muito que nos custe, é sempre a maneira de seguirmos em frente. Ao mentirmos, como referiste, só vamos adiar uma consequência (que acabará por ser mais grave por termos adiado).
r: Projetos desta natureza aquecem o coração *-*
Concordo totalmente!