sábado, 19 de maio de 2018

# Curta-Metragem # Viver com ansiedade

Viver com ansiedade




A única certeza que tinha era a de que queria retratar algo que fosse meu. O curioso de fazer um trabalho sobre a ansiedade é que ele foi o motivo da minha ansiedade ao longo dos últimos meses ter disparado para um nível nunca antes visto. Chorei quase todas as noites e, quando finalmente conseguia adormecer, era invadida por pesadelos que não me davam descanso. Pensei desistir uma data de vezes porque achava que nunca ia conseguir retratar aquilo que vivo todos os dias, a toda a hora.

Detetei este transtorno pouco antes de entrar na faculdade, mas os sinais começaram muitos anos antes. O problema é que eu própria pensava como grande parte das pessoas. "É tudo normal, faz parte do stress". O nervosismo era normal, o tremer fazia parte e a falta de ar também. Até ao dia em que tive um ataque que me tirou as forças ao ponto de pensar que ia morrer. Nunca me vou esquecer do olhar do meu irmão quando me viu deitada no chão sem conseguir respirar e a soluçar enquanto arranhava todas as coisas à minha volta. Foi aí que tudo se tornou evidente. Para mim, porque para as outras pessoas, muitas vezes, continua a ser tudo normal. É difícil ter de explicar trinta vezes por dia que as minhas mãos tremem mesmo que eu esteja 100% calma. É difícil explicar porque é que já acordo cansada. É difícil fazer as pessoas entender que há momentos em que tudo me irrita, em que preciso de estar sozinha porque o simples respirar da pessoa ao lado me faz ficar ansiosa. No geral, é difícil fazê-las entender. Principalmente quando ouvimos coisas como "todos somos ansiosos de vez em quando". Bem, ser ansioso e ter ansiedade são coisas completamente distintas. 
Pensei em desistir e voltar para casa. Descansar até achar que estava pronta para voltar. Os prazos, ai os prazos... São horríveis para todos, mas para uma pessoa ansiosa são a tortura total. Mudei o rumo deste trabalho umas quantas vezes porque achava que nunca ia ter tempo para nada e nunca nada estava bem. Cansei-me, chorei, parti umas quantas coisas e voltei a tentar. Isto todos os dias. A Sofia expôs-se. A Liliana tirou tempo e mais tempo para estar ali, a dar tudo de si. Foram as minhas duas âncoras. 
Quando, em frente ao professor, tive de explicar cada uma das minhas ideias, não hesitei em dizer: "quero mostrar que a ansiedade não é uma coisa pontual. Nós não somos ansiosos só quando temos um ataque. Somos ansiosos todos os dias, a toda a hora e temos de aprender a viver com isso". Por isso, não me interessa mostrar o que vai na nossa cabeça no dia a dia. É comovente, mas ninguém ia compreender de qualquer forma. Só nós sentimos e cada um sente à sua maneira. Mas quis, com toda a certeza, mostrar os pequenos sinais. Às vezes eles são tão explícitos e ninguém percebe por ser "normal". Nem sempre é. "Afinal, numa sociedade precisamos todos uns dos outros e, por vezes, os olhares que parecem não transparecer nada estão, na verdade, carregados de sofrimento. Um simples olhar ou um conjunto de rabiscos num caderno podem, na verdade, ser pedidos de ajuda camuflados."

3 comentários:

  1. Os sinais estão todos lá, mas, infelizmente, como ainda se desvaloriza muito esta questão, acabam por ser ignorados. No entanto, a ansiedade é demasiado séria para ser descartada assim, e acho mesmo importante expor este tipo de trabalhos, porque é uma forma de alerta. Além disso, contribui para que as pessoas percebam que não estão sozinhas.

    Beijinhos*

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  2. É sim,algo para o qual se deve alertar para. Acho excelente o facto de teres feito esse trabalho, pois assim sensibilizas as pessoas de que a ansiedade não é algo a desvalorizar, mas sim algo a ter em conta. Falo, por experiência própria, de que é horrível sentir esse sufoco. Parece que o mundo inteiro mudou, já não sentes nada como devias. Parece que tudo em teu redor ja nao faz sentido algum... lembro-me da ultima vez que tive um ataque desses, estive mais de quinze minutos a tentar controlar a respiração e o choro que, por mais que o tentasse conter, parecia que não acabava mais, era como se quanto mais me tentasse acalmar, pior ficava e mais eu chorava. Essa foi uma das principais causas de eu ter procurado uma neurologista e, agora, apesar de ainda me sentir ansiedade, já não e como antes.

    Beijinhos,
    Ella
    moonlightfelicitydestin.blogspot.pt

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  3. Estava aqui a pensar que não me lembro de nenhuma grande reportagem na televisão generalista portuguesa sobre este tema :/ faz falta.


    http://atualidadesbyclaudia.blogspot.com/

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